terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

Khmer Vermelho começam a ser julgados

O Khmer Vermelho (Khmer Rouge) foi o partido comunista do Camboja, formado a partir de uma dissidência do Partido Comunista da Indochina, o mesmo que deu origem ao Vietminh.

Em 1973, após o final da guerra do Vietname, os EUA retiraram-se da Indochina e em Abril de 1975, o Khmer Vermelho assumiu o poder no Camboja através da conquista da capital Phnom Penh. Foi o término da guerra civil contra o governo de Lon Nol que era apoiado pelos norte-americanos.

Pol Pot era o líder deste grupo, apoiado pelo regime Chinês de Mao Tse Tung, e tentou concretizar a sua proposta de um país novo feito com um homem novo, para o que instalou um regime de terror.

Imediatamente após o domínio do governo pelo Khmer, foi iniciada a evacuação das populações das cidades em direção ao campo. Eram cerca de 2,5 milhões de pessoas e não havia excepções, incluindo-se 1,5 milhões de refugiados de guerra e até os hospitais eram esvaziados e os pacientes deportados para o interior. O governo comunista do Khmer Vermelho alegava a necessidade de alimentar a população urbana, carente devido aos bombardeamentos americanos.

Embora tenham sido lançadas mais de 500 mil toneladas de bombas sobre o território cambojano, quase quatro vezes mais do que as lançadas sobre Japão durante a Segunda Guerra Mundial, este não foi o motivo desta "evacuação". O governo do Khmer Vermelho inicia um programa de execuções implacável que visava todos os funcionários governamentais, policias, militares ou qualquer outra pessoa que tivesse a mínima relação com o governo deposto. O Khmer não executava apenas o "vinculado", mas todos os seus familiares, para eliminar qualquer possibilidade de uma futura vingança contra o regime. O ritmo das execuções viria a diminuir-se, com os condenados a serem enviados para "centros de reeducação", mas mais tarde seria retomado e desta vez os alvos eram os mais cultos e intelectuais, tais como professores.

Entre 1977 e 1978, a violência atingiu o seu auge, com os assassinatos a serem comuns entre os próprios elementos do Khmer e as pessoas mortas por qualquer motivo: por não trabalharem com o desejado afinco, por reclamarem das condições de vida, por guardarem algum bem ou comida para utilização própria, por usarem alguma jóia, por terem relações sexuais não autorizadas, por chorarem a morte de algum amigo ou familiar e até por demonstrarem algum sentimento religioso. Os doentes eram, na maioria das vezes, eliminados.
O número de vítimas não é exacto, as estimativas vão dos 1,5 a 3 milhões de pessoas - foi o maior massacre proporcional à população de um país, ocorrido na história moderna da Ásia.



Inconformados com a barbárie, os líderes do Vietnam ordenam a invasão do Camboja e em 1979 conseguem depor o Líder Pol Pot, pondo um final à matança. Hanói assume o controle do Camboja e o país passará a ser denominado República Popular do Camboja, sob a presidência de Heng Samrin.
O país passa a ser reconstruído e as suas instituições recompostas, embora o sistema colectivista e a economia planificada tenham continuado, adoptando a base do regime marxista-leninista do Vietname.
O Camboja encerra o século com um regime de governo estabelecido por uma Monarquia Parlamentarista, sob a égide de um antigo governante deposto - Norodom Sihanouk .

Depois de passar 18 anos escondido na selva e ter a sua morte anunciada diversas vezes, Pol Pot reaparece em julho de 1997, é capturado e condenado à prisão perpétua domiciliaria. Em 1998 foge para a floresta mas acaba por morrer pouco depois e o seu corpo foi queimado na área rural do Camboja, com várias centenas de ex-Khmer vermelhos presentes.

Um acordo assinado entre o governo cambojano e a ONU, em maio de 2000, determina a criação de um tribunal para julgar os líderes do Khmer Vermelho por crimes contra a humanidade.

Hoje começaram a ser julgados.
Veja a notícia no Público:
Camboja, O genocídio em julgamento
Líder khmer vermelho impávido no início do julgamento

3 comentários:

  1. Obrigada pela explicação. Já tinha lido as notícias, mas confesso que já não me recordava desta parte miserável da história. Beijos

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  2. Pois, infelizmente é uma história triste.
    Resta-nos esperar que os erros da História sirvam para alguma coisa e que aquele povo seja mais afortunado no presente e futuro.
    Infelizmente, mais uma vez, receio que na realidade isso não esteja para breve. Ainda este fim de semana vi um documentário na SIC Notícias: "Toda a Verdade, Camboja - Viver num Campo Minado". Fiquei a saber que em algumas zonas rurais do Camboja, na sequência dos conflitos passados, os campos estão pejados de minas. As pessoas, obrigadas pela pobreza a cultiva-los, arriscam a vida todos os dias.

    Quando aos "bandidos", ao menos que sejam julgados e condenados. O que mesmo assim é muito pouco em relação às atrocidades que cometeram.

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  3. Noticia de hoje do DN:
    "Carniceiro khmer começa a ser julgado no Camboja"
    http://dn.sapo.pt/2009/02/18/internacional/carniceiro_khmer_comeca_a_julgado_ca.html

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